A partir de cada tema abordado, que contou com a participação de colaboradores locais, a exemplo da representante da Associação de Mulheres Agroextrativistas do Cantão (AMA CANTÃO) e dos gestores da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Guaíra e Fazenda do Futuro, foram debatidas questões importantes acerca das demandas da região frente ao enfrentamento de impactos como incêndios florestais, avanço do desmatamento, proximidade do depósito a céu aberto do lixo gerado pelo município, exposição à pulverização aérea de agrotóxicos proveniente de projetos de produção de grãos em grande escala, dentre outros.
Neste conjunto de paisagens que compõem o Vale do Araguaia, região conhecida por deter o maior índice pluviométrico do Estado (2.000mm/ano) e de transição entre os biomas Cerrado e Amazônia, destaca-se esta Área de Proteção Ambiental (APA) Ilha do Bananal/Cantão, que nos últimos dez anos sofreu uma drástica alteração da paisagem, transitando de áreas de pastagens onde era mantida alguma vegetação arbórea para cultivo extensivo de commodities agrícolas, estando entre as três regiões do Tocantins de maior foco de desmatamento registrado em 2022, de acordo com relatório do Ministério Público Estadual - MPE/TO.
Desta forma, a oportunidade de um ordenamento com base em paisagens sustentáveis, que é inerente a esta categoria de Unidade de Conservação, têm sido desperdiçada, enquanto comunidades rurais, pequenos grupos de produtores e agroextrativistas, assentados e artesãos convivem com dificuldades estruturais desde a falta de políticas públicas locais, passando pela fragilidade nas práticas organizacionais e no beneficiamento e qualificação de seus produtos para inserção no mercado e pelo enfrentamento das adversidades climáticas.
“O projeto Jovem Cerrado não é um evento isolado, mas sim um catalisador para ações contínuas em prol da proteção do Cerrado e do fortalecimento das comunidades locais. Ao promover o diálogo e a ação entre os jovens, ele inspira esperança e renova o compromisso com um contexto sustentável para todos”, destaca Angélica Beatriz.
A jornalista Sarah Tamioso, também voluntária da Associação Onça D’água, aponta que por meio dos debates será possível alavancar o fortalecimento dos grupos e organizações locais, além do avanço para a discussão sobre práticas agroecológicas, com foco na justiça climática e na permanência no campo. “Acreditamos que a comunicação popular pelas mãos da juventude rural pode despertar a atenção para seus modos de vida, tirando-os da invisibilidade, valorizando seu papel e representatividade no território”.
Após um primeiro dia repleto de conversas enriquecedoras, os jovens tiveram a oportunidade de vivenciar a experiência de conhecer um pouco do Parque Estadual do Cantão, onde pernoitaram e participaram de outras atividades. O desejo de conhecer a unidade de conservação foi percebido pelas articuladoras do projeto Jovem Cerrado, Geniffe Kariny do Assentamento Onalício Barros, Gabriela Sousa do Povoado do Quilombo do Prata e Caylane Souza, egressa da Escola Família Agrícola (EFA) de Porto Nacional, que garantiram a atividade na programação durante as reuniões de planejamento da atividade.
Na manhã do domingo, os jovens conheceram a sede administrativa, o centro de visitantes, o píer às margens do Rio do Côco, a Trilha do Ferrugem e uma das cabanas destinada à prática de camping, numa imersão sobre a biodiversidade e a importância da conservação. “Este lugar parece um paraíso, com tanta beleza e cheiros”, manifestou o jovem Carlos Henrique durante a caminhada na mata.
A 1ª Roda de Conversa é uma ação que faz parte do projeto Comunidades produtivas no Cerrado tocantinense: juventude liderando intercâmbios, aprendizados, sustentabilidade e comunicação popular, apoiado pelo Fundo Casa Socioambiental, e que contou com a colaboração do Parque Estadual do Cantão, Prefeitura de Caseara por meio da Secretaria de Agricultura e Fazenda do Futuro/Eco Araguaia, além da participação da equipe de gestão da APA Jalapão e uma jovem representante da Comunidade Galheiros.