Parágrafo NoA lista de reservas foi obtida junto ao ICMBio e ao Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC). Os cálculos usaram as médias de carbono estocadas nos diferentes tipos de flora de cada bioma, variando de 593,8 toneladas de CO2 por hectare (ha), na Amazônia, a 83,6 tCO2 por ha, na Caatinga.
Os estoques médios nos demais biomas são de 413,5 tCO2 por ha (Mata Atlântica), 178,8 tCO2 por ha (Cerrado), 153,9 tCO2 por ha (Pantanal) e 128,2 tCO2 por ha (Pampa). Os dados vieram da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção sobre Mudança do Clima das Nações Unidas.
Assim, as 10 áreas com mais carbono estão na Amazônia e são os parques nacionais Montanhas do Tumucumaque, do Pico da Neblina e do Jaú, as estações ecológicas do Grão Pará e da Terra do Meio, as florestas estaduais do Paru, do Trombetas e do Amapá, a Área de Proteção Ambiental Tapuruquara e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Cujubim.
O balanço mostra igualmente que as reservas amazônicas concentram 92% do carbono do SNUC, não só porque a flora nativa da floresta equatorial acumula naturalmente bem mais desse elemento que a de outras regiões, mas sobretudo pela gritante diferença de área protegida entre os biomas.vo
Enquanto unidades de conservação abrigam 28,41% da Amazônia, no Pampa a taxa é de 2,95%. Nas demais regiões o cenário não é menos preocupante. No Pantanal a área de conservação é de 4,68%, no Cerrado de 8,62%, na Caatinga de 9,16% e na Mata Atlântica de 10,38%. Os números são do CNUC.
Isso mostra que, sobretudo fora da Amazônia, há grandes oportunidades para ampliar o sistema de unidades de conservação e beneficiar, ao mesmo tempo e do nível local ao global, as agendas de conservação da biodiversidade e de proteção do clima.
Metas internacionais pedem a proteção de ao menos 17% das áreas terrestres mais importantes para manter a diversidade biológica e serviços ecossistêmicos. E esses conjuntos de reservas devem ser bem gerenciados e interligados a outras medidas protetoras da natureza.
Quanto às esferas administrativas, os estoques de carbono estão concentrados nas unidades de conservação federais (54,01%) e estaduais (42,53%), e bem menos das municipais (3,46%). Isso também se deve aos distintos montantes de territórios protegidos por cada esfera de governo.
A análise inédita aponta igualmente que as 10 unidades de conservação que mais perderam carbono entre a sua criação e o ano de 2022 foram nove Áreas de Proteção Ambiental e uma Floresta Nacional, todas reservas de uso sustentável distribuídas na Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado.
Por outro lado, o balanço evidencia uma diferença de apenas 6,5% entre os estoques de carbono verificados no estabelecimento das reservas e no ano passado. Isso confirma o papel indispensável do SNUC para conter as perdas de vegetação natural no país.
Todavia, não faltam ameaças à proteção ambiental brasileira. Além dos incêndios que esta época do ano calcinam o Pantanal e a Amazônia, projetos tramitando nos parlamentos federal e estaduais podem reduzir ou eliminar unidades de conservação que guardam 21% do carbono no SNUC.
As propostas legislativas envolvem áreas na Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa. A Estação Ecológica de Tamoios e os parques nacionais do Iguaçu, dos Campos Gerais, da Serra da Bodoquena e dos Lençóis Maranhenses figuram entre as principais reservas ameaçadas.
“Assegurar que a grande quantidade de carbono permaneça estocado pede um cuidado ainda maior com a incidência de fogo, o desmatamento e outras pressões sobre o sistema nacional de unidades de conservação”, lembra Ane Alencar, do Ipam.
A estimativa de carbono e de CO2 no SNUC e a análise de dados foram feitas por Bárbara Zimbres, pesquisadora do Ipam, e por Aldem Bourscheit, repórter de ((o))eco.
*Capa: Floresta Nacional do Tapajós. Foto: Marcio Isensee e Sá
Aldem Bourscheit
Jornalista cobrindo histórias sobre Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Comunidades Indígenas e Tradicionais. Atuou em jornais, rádios, organizações não governamentais, setor privado e governamental. Pós-graduado em Meio Ambiente, Economia e Sociedade pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Argentina). Especializado em Políticas Socioambientais e Públicas. Membro da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental.